Falar de nutrição é estar integrado. A nutrição é um processo, que requer ação de todo o organismo para que efetivamente ocorra. Não podemos pensar em “nutrir” o corpo apenas por oferecer alimento a ele. Esta é apenas uma parte do processo. Algumas questões como: O quê estou oferecendo ao meu corpo como alimento, como estou oferecendo, por quê, e em qual ambiente, são essenciais ao se considerar a nutrição.
Muitas pessoas me perguntam: Qual alimento é melhor para perder peso, ou para ganhar massa? Ou para melhorar a imunidade? E por aí vai. E o que posso responder? Alimento é alimento. O que vai ditar resultados é a sua integração com nosso corpo. Um exemplo disso: muito se fala dos efeitos do ômega 3 na saúde do coração, dentre outras de suas possíveis funções. No entanto, usar apenas o óleo de peixe nada representa. É necessário um processo de digestão, absorção, transporte do nutriente ou da substância ativa deste nutriente para as células dos tecidos e sistemas. Para que isso ocorra, nosso sistema digestório e todo o processo de transportes, de entrega, de recepção, devem estar adequados. Do contrário, não teremos a ação do nutriente ativo e a nutrição efetiva não ocorrerá. Apenas o consumo existirá.
Este é apenas um dos muitos aspectos envolvidos nesse processo. É possível, ainda, pensar-se em fatores externos do meio ambiente, e, nesse quesito,muitas variáveis se aglomeram. O autoconhecimento passa a ter um papel fundamental nas escolhas que faremos para nossa vida, também quanto ao alimento, mas na movimentação consciente que essas escolhas fazem na nossa vida. Passamos a ser protagonistas e responsáveis por tudo que nos cerca e livres para ser quem devemos ser. Meio louco falar isso em nutrição. O que tem a ver? Comida com autoconhecimento, com ser livre...
Pois é, vivemos em um mundo onde aprendemos o tempo todo a nos voltarmos para fora, para os estímulos que desejam de nós. Em algum momento, paramos para refletir quais são os nossos desejos e necessidades reais?
Em atividade de grupo com pessoas que buscaram compreender melhor seu perfil alimentar e melhorar também o perfil corporal, ficou claro que ao praticar a percepção e atenção plena no consumo de um alimento que mais gostava, nem sempre continuava a gostar desse alimento. O consumo de um biscoito recheado, por exemplo, quando foi sugerido para que deixasse na boca apenas o recheio (sendo essa a parte que mais gostavam de comer) por tempo suficiente para que as glândulas sejam estimuladas pelos ingredientes, e fossem observadas as sensações causadas, o paladar não agradou a maioria das pessoas.
Esse fato é interessante na medida que nos permite rever nossas escolhas. Elas podem ser movidas pelo paladar real ou o paladar emocional. Considerando ainda o biscoito como nosso alimento exemplo, seu consumo pode nos remeter a um período agradável, e o seu consumo na atualidade passa a nos trazer a sensação daquela época, não havendo atenção efetiva ao sabor ou mesmo aos efeitos que o alimento pode trazer ao corpo. Por isso, estar atento em quem você é neste momento pode mudar todo o loop dessa e de outras situações.
Portanto, buscar o autocuidado, a autopercepção, seguir o caminho do autoconhecimento é prestar atenção em nós, é estar atento ao queprecisamos e em que medida. O alimento é uma ferramenta poderosa de valor intrínseco ao nosso estado emocional, ao nosso acolhimento. Perceber-se neste movimento é um grande passo em busca de autocontrole. Mindfulness nos orienta para a escuta sensível, para a observação sem julgamento, para a percepção da importância da vida, do momento presente. E estar bem é tudo. É o que todos desejam, buscam. Talvez por caminhos diferenciados, mas a busca é a mesma.
Que todos os Seres sejam felizes e saudáveis. Gratidão
Fátima Aparecida Arantes Sardinha, doutora em nutrição,estudante e praticante de Mindfulness.
Para contato: fatimasardinha@terra.com.br,
Instagram: fatima230363