A dor crônica é um dos males que mais assolam o mundo. Pessoas sofrem e os países sangram financeiramente com o problema. São mais de 50 bilhões de dólares por ano que as empresas perdem com funcionários com dores crônicas. As soluções práticas, como medicação para todo e qualquer caso, não tem mais surtido o efeito desejado e começamos a perceber que o buraco está cada vez mais profundo.
Uma dor crônica é caracterizada por ser uma dor que se perpetua no tempo, por mais de 3 meses, e que tira qualidade de vida da pessoa que sofre com ela, no caso, por muito tempo. Vamos ao médico e, muitas vezes, não encontramos a solução para o nosso problema, outras vezes não encontramos nem mesmo a causa e, assim, prosseguimos com dor e sofrimento, sem sabermos o que fazer. O problema da dor crônica cresce no Brasil a cada ano as pesquisas mais recentes indicam que a questão acompanha o aumento da sensação de estresse e a diminuição da nossa capacidade de atenção e, consequente, diminuição do estado de presença. Antes de prosseguir, gostaria de fazer um convite para você refletir. Você almoça: assistindo à TV ou rolando o feed do Facebook ou do Instagram? Sim ou Não?
Continuando... tendo essa realidade em mente, mindfulness e as terapias integrativas surgem como uma possibilidade eficaz para conseguirmos aliviar as dores ou, até mesmo, lidar com elas de forma diferente. Pesquisas científicas estão sendo feitas e mindfulness é encontrado como uma das formas eficazes de lidar com a dor crônica. Na realidade, mindfulness nos ensina formas sobre como lidar com ela de forma adequada, deixando de resistir a ela e sim aceitando a dor , o que nos permite lidar de uma forma mais compassiva.
Nesse momento talvez você questione: “Eu não quero aceitar a minha dor, eu quero me livrar dela.” Por experiência própria, posso te dizer que esse é o caminho. Aceitar não significa resignar a ela ou não fazer nada para melhorar. Aceitar significa compreender que é isso o que você tem agora e que, por mais que possa doer, que está tudo bem sentir isso. Assim, tomamos conhecimento de que ao reconhecer, não precisamos brigar com a dor, mas sim fazer o nosso melhor, nos tratarmos da nossa melhor forma para podermos estar bem com nós mesmos. Com isso, junto ao tratamento médico ou de fisioterapia, a sua dor será trabalhada de forma muito mais adequada e precisa.
Vamos então à descrição do primeiro ponto importante que precisamos saber sobre a forma como reconhecemos a dor em nosso corpo: a experiência da dor é sempre subjetiva, ou seja, o mesmo estímulo pode ser recebido de diferentes formas por diferentes pessoas. Esse estímulo é construído por distintas interações: sensorial, cognitiva, afetiva, comportamental Uma pesquisa feita pela equipe de psicologia da Universidade de Marquette, em Wisconsin, nos Estados Unidos, entre as relações de mindfulness e o aspecto sensorial da percepção da dor trouxe resultados incríveis: após apenas 4 dias de treinamento em técnicas de meditação de atenção plena foi possível perceber-se a redução da sensação desagradável provocada pela dor em 57%, assim como diminuiu a percepção de intensidade da dor em 40%. O mais impressionante de tudo isso, foi que a pesquisa percebeu que as práticas de mindfulness mudavam a forma como o cérebro recebia a dor, mudando de fato as regiões de representação cerebral da dor quando uma pessoa era exposta a um estímulo de dor (Zeidan et al., 2011).
Outras muitas pesquisas foram feitas na correlação entre mindfulness e dor, das quais uma merece especial destaque, por ter sido realizada por Jon Kabat-Zinn, criador da metodologia do mindfulness em seu formatoocidentalizado, que encontramos hoje nos programas e cursos de 8 semanas. Kabat-Zinn realizou uma pesquisa com 90 participantes para verificar se havia algum impacto de mindfulness em alguns diferentes pontos: a dor presente no aqui e no agora, inibição na ativação da dor, imagem corporal negativa, sintomas da dor, distúrbios de humor, além da sintomatologia psicológica, como ansiedade e depressão.
O professor do MIT percebeu que mindfulness colabora muito na diminuição da percepção da dor no presente momento, principalmente devido ao treinamento atencional, que permite com que possamos distinguir as sensações de dor de momento a momento e os pensamentos que surgem provenientes dessas sensações. Dentre esses 90 participantes que fizeram parte da pesquisa, a maioria vivenciava dores crônicas por, aproximadamente, 8 anos e muitos deles relataram que as dores desapareceram após a intervenção/treinamento em mindfulness, enquanto muitos outros disseram que, por mais que a dor persistisse, a forma como eles passaram a lidar com ela mudou significativamente. (Kabat-Zinn, Lipworth, Burney; 1985)
Isto é, as pesquisas em mindfulness e dor trazem diversas evidências dos efeitos positivos dos treinamentos, desde a forma como recebemos o estímulo da dor, até o efeito negativo que a imagem corporal traz na relação com a própria dor. Dessa forma, é importante saber que as práticas de atenção plena podem funcionar como um tratamento para os casos de dor, mas que nós, como pacientes, não devemos nunca negligenciar a ida ao médico quando a dor aparece, para descartarmos doenças ou lesões sérias. Estejamos atentos ao nosso corpo e a nossa mente, para melhorarmos nossa qualidade de vida e aprendermos a lidar de forma adequada com a dor que pode estar presente em nossas vidas.
Victor Tapias: instrutor de mindfulness e autocompaixão
Para contato: contato@inspiratreinamentos.com.br
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